ENTREVISTA – Mananciais da Serra
Pesquisador da Sanepar fala da importância da Mata Atlântica para o abastecimento de Curitiba e Região
Em menos de um século, a cobertura florestal do Paraná foi devastada. Já em 1980, de acordo com o pesquisador Francisco Gubert Filho, restavam 17,2% das florestas paranaenses. Atualmente, segundo dados de 2013 da Fundação SOS Mata Atlântica, entre florestas primárias e secundárias, restam preservados apenas 11,8% do território.
Como forma de conter o desrespeito ao meio ambiente registrado ao longo do desenvolvimento do país, e também para organizar e promover diferentes formas de manejo, foi instituído no ano 2000 o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Essas áreas – com características naturais relevantes – são criadas para preservar o patrimônio biólogico existente e garantir inúmeras funções ambientais. No Paraná, as áreas protegidas por UCs são as principais responsáveis pelo abastecimento público de grande parte da população.
Com objetivo de mostrar a interdependência dessas áreas naturais protegidas com a qualidade e a quantidade da água disponível para o consumo humano, o Diálogo conversou com o engenheiro florestal e doutor em Engenharia Florestal/Conservação da Natureza da Assessoria de Pesquisa e Desenvolvimento (APD), Maurício Bergamini Scheer.
Diálogo: De que forma que a natureza presta um serviço ambiental à população?
Maurício: A vegetação, seja floresta ou campo natural, juntamente com seus solos, promove uma infiltração mais lenta da água da chuva, agindo como uma esponja, mantendo-a por mais tempo na bacia hidrográfica. Quanto mais preservados estiverem esses ecossistemas, maior a qualidade e a quantidade de água disponível. Esta regulação dos fluxos de água garante que nossos reservatórios ou nossas captações sejam atendidos. Este é apenas um dos serviços que a natureza presta para a sociedade, entre inúmeros outros como os recursos da biodiversidade, a prevenção da erosão, a mitigação de enchentes, a regulação do clima, o estoque de carbono e as belezas cênicas. Por isso, todos temos o dever de cuidar ou recuperar nossas florestas, solos, fauna, rios.
Diálogo: Qual a relação entre o serviço da Sanepar, de abastecimento público, e a preservação ambiental?
Maurício: As águas utilizadas para o abastecimento público vêm de fontes superficiais e subterrâneas. As primeiras são responsáveis pela maior parte do abastecimento da população do Estado do Paraná. De maneira geral, as chuvas alimentam esses mananciais, pois abastecem as cabeceiras das bacias hidrográficas. Mais da metade da população de Curitiba e Região Metropolitana (RMC) é abastecida pelas águas que vêm dos rios das cabeceiras da sub-bacia do Altíssimo Iguaçu. Essas nascentes iniciam-se nos vales poucos metros abaixo dos topos das montanhas das serras do Marumbi e da Baitaca e alimentam os reservatórios Piraquara I e II e parte do Iraí.
Diálogo: Devido ao histórico de desmatamento no Paraná, como se manteve ao longo dos anos a disponibilidade de água para a população?
Maurício: No caso da RMC, região mais populosa do Paraná, quem contribui para que as florestas e os solos potencializem o atendimento da demanda por água são as unidades de conservação que abrangem, principalmente, a Serra do Mar. Entre as UCs de proteção integral, estão o Parque Estadual Pico do Marumbi, onde encontra-se o Morro do Carvalho, e o Parque Estadual da Serra da Baitaca, onde encontrase o Morro Anhangava. Abrangendo áreas de mananciais, há também as de uso sustentável, como as APAs (Áreas de Proteção Ambiental) do Iraí, do Pequeno, do Piraquara e do Passaúna, a oeste de Curitiba. Infelizmente, a sociedade ainda não reconhece adequadamente a importância de destinar recursos para melhor gerenciar estas áreas que deveriam ser protegidas com mais seriedade. Isso seria investir em saúde e qualidade de vida, além de atuar na prevenção de secas, como a que assolou o Estado de São Paulo, evitando prejuízos ambientais e econômicos.
Diálogo: Que cuidados devem ser tomados com as unidades de conservação para que não falte água para as gerações futuras?
Maurício: As unidades de conservação necessitam, no mínimo, de um plano de manejo e de recursos para sua efetiva execução, o que infelizmente não ocorre com a maioria das áreas. Sendo uma forma de gestão territorial com objetivos específicos, são necessários diversos programas que devem ter a participação da sociedade, de instituições governamentais e não governamentais e de empresas privadas, porque a água é um bem comum a todos. A realização desses programas promove o adequado atendimento do zoneamento, previne incêndios, evita a erosão, a eutrofização e a consequente floração de algas nos reservatórios.
Além disso, preserva e recupera a vegetação, os solos, a fauna e impede ocupações domiciliares e industriais irregulares e o lançamento irregular de esgotos. A educação ambiental é outro ponto importante que é potencializado com esses programas. No entanto, temos que pensar no sistema de unidades de conservação juntamente com as demais áreas naturais que deveriam ser protegidas (do antigo e do “novo” Código Florestal), como as APPs (Áreas de Preservação Permanente) – que incluem outros topos de morros, encostas íngremes, vegetações ciliares – e também com o correto uso do solo das áreas agrícolas e industriais.
Diálogo: De que forma a Sanepar pode contribuir para a sustentabilidade das UCs do Estado?
Maurício: Atendendo nossa política ambiental e seus compromissos, que inclui a legislação ambiental e suas atualizações e os programas estabelecidos nos licenciamentos. A Sanepar é uma das instituições governamentais que devem trabalhar em conjunto na gestão de UCs, por ser uma das maiores interessadas no recurso “água”. Além disso, a empresa tem inúmeros imóveis dentro de APAs, portanto, deve fazer parte e trabalhar efetivamente com grupos, conselhos, comitês gestores. Também deve trabalhar em conjunto com os parques e demais UCs, principalmente em áreas de mananciais, e implantar e fortalecer ações e programas de grupos gestores de mananciais e reservatórios (zonas de amortecimento). Outro ponto é valorizar, ampliar e vincular programas da empresa já existentes com potencial para mitigar efeitos no meio ambiente. Para isso, é preciso trabalhar em parceria com IAP, Emater, universidades, prefeituras e outras instituições.
Diálogo: Por que as pessoas que vivem na cidade precisam conhecer e conservar áreas como a Serra do Mar?
Maurício: Para perceber o quanto somos dependentes dos serviços ambientais e participar da proteção destas áreas. Isso implica escolhas de consumo, exercício da cidadania, eleger representantes preocupados com a temática… Tudo o que usamos, construímos, comemos e todas as condições ambientais de que necessitamos para sobreviver dependem de um equilíbrio. Este equilíbrio fica mais justo quando reconhecemos esta dependência.
VISITAÇÃO AOS MANANCIAIS DA SERRA ESTIMULA A PRESERVAÇÃO
Nos Mananciais da Serra, área do município de Piraquara, está sendo preservado o primeiro sistema de captação e abastecimento público do Paraná, composto por 17 reservatórios interligados. Este sistema começou a funcionar em 1908. Curitiba recebeu água exclusivamente dos Mananciais até 1945, quando foi inaugurada a estação do Tarumã.
“O ambiente acidentado da Serra do Mar, desde o início do século XX , foi escolhido para os primeiros mananciais de Curitiba. A vasta floresta e a alta pluviosidade tornam a região especial para a obtenção de água. As represas da área leste de Curitiba (Iraí, Piraquara I e II) são abastecidas por nascentes que estão principalmente na Serra do Mar”, explica Ana Cristina do Rego Barros, bióloga do Centro de Educação Ambiental Mananciais da Serra.
Os Mananciais da Serra mostram a importância da área preservada para o abastecimento público de Curitiba e região. O cuidado com a área também se deve às Unidades de Conservação. Nos Mananciais, há uma sobreposição delas: de proteção integral, o Parque Estadual Pico do Marumbi e, de uso sustentável, a APA do Rio Piraquara. Além da Área de Especial Interesse Turístico (AEIT) do Marumbi e da Área de Tombamento da Serra do Mar. Segundo Ana Cristina, o trabalho desenvolvido nos Mananciais da Serra contribui para a disponibilidade do “produto água” distribuído pela Sanepar.
“Quando as pessoas conhecem e vivenciam uma realidade, elas se sensibilizam e estão aptas a compreender a complexidade das relações entre a natureza e a sociedade. Visitar uma nascente conservada, caminhar nas trilhas da Serra, respirar o ar úmido e puro, nos faz refletir sobre nosso papel como participante deste sistema. Assim, criamos condições para que se desenvolva um sentimento de pertencimento e que se promova o reenvolvimento das pessoas com a natureza”, afirma.
Leia mais em:
http://site.sanepar.com.br/conteudo/mananciais-da-serra
Veja também:
https://www.aguapress.com.br/abastecimento-de-agua-em-maringa/
https://www.aguapress.com.br/veja-o-relatorio-da-qualidade-de-agua-potavel-em-curitiba/
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